14 agosto, 2009

Engenharia Natural: o estado da arte na Europa e no sul do Brasil

Fabrício J. Sutili

“Técnicas em que plantas, ou partes destas,

são usadas como material vivo de construção.

Sozinhas, ou combinadas com materiais inertes,

tais plantas devem proporcionar estabilidade

às áreas em tratamento”.

Esse é o conceito dado por Hugo Meinhard Schiechtl (1922–2002) pai da Engenharia Natural (também chamada de Bioengenharia de Solos). Nessas técnicas, não só, os materiais inertes como madeira, pedras, geotexteis e estruturas de metal e concreto, mas também a vegetação é entendida como componente construtivo; em obras que visam a perenização de cursos de água, estabilização de encostas e taludes, tratamento de voçorocas e, o controle da erosão do solo de modo geral.

Surgidas inicialmente, no âmbito fluvial, como medidas complementares aos métodos tradicionais de controle de torrentes, estas técnicas são conhecidas e utilizadas na Europa Central há décadas. Nos métodos tradicionais de engenharia, outrora lá empregados, as componentes ecológicas e estéticas foram em parte negligenciadas. Atualmente, estas técnicas apresentam-se na Europa como alternativa aos modelos tradicionais, pois além de trazerem solução aos problemas, quando corretamente empregadas, trazem vantagens estéticas e ecológicas.

Também aqui se apresentam como alternativa adequada na solução de uma série de problemas normalmente decorrentes do comportamento processual natural dos cursos de água, por vezes, agravados ou mesmo resultantes das ações antrópicas de ocupação. Bem como, se apresentam como alternativa na [re]estabilização de encostas ou prevenção de movimentos de massas.

Esses problemas que representam, tanto perdas econômicas como situações de risco, podem, com o devido conhecimento, serem mitigados ou mesmo em parte solucionados pela Engenharia Natural. Entretanto não só esses modelos de intervenção são, no sul do Brasil, pouco conhecidos, como carecesse de informações sobre as características técnicas da vegetação.

Com intento de suprir parte dessa carência de informações, a Universidade Federal de Santa Maria em conjunto com o Instituto de Engenharia Natural da Universidade Rural de Viena deu início a um projeto que visa investigar as propriedades vegetativo-mecânicas da vegetação ribeirinha e de encosta. Já foi possível avaliar a aplicabilidade técnica de algumas espécies vegetais, com investigações que compreenderam desde a avaliação do potencial de reprodução vegetativa, época ideal de plantio, crescimento e arquitetura do sistema radicular, bem como a flexibilidade dos ramos e a resistência ao arranquio e tração das raízes. Esse conhecimento tornou possível a implantação segura de algumas obras piloto de estabilização de taludes fluviais. Nesse domínio já existem inclusive empresas que atuam no mercado nacional prestando serviços, que em diferentes graus de aplicação e entendimento, valem-se das técnicas de Engenharia Natural. No entanto, a lacuna de conhecimento quanto às características biotécnicas da vegetação, faz com que as empresas valorizem essencialmente intervenções apoiadas no uso de geotexteis, biomantas ou mesmo geossintéticos, concreto e gabiões, entre outras estruturas pré-fabricadas, em que a vegetação por vezes torna-se simples acabamento estético. Para que seja respeitada a definição dada por Schiechtl, a vegetação deve ser entendida também como componente estrutural.

Artigo publicado no Jornal do CREA/SC de agosto de 2009
Fabrício J. Sutili é doutor pelo Instituto de Engenharia Natural e Planejamento da Paisagem do Departamento de Engenharia e Riscos Naturais da Universidade Rural de Viena. Atualmente é professor adjunto da UFSM / CESNORS.